terça-feira, 4 de outubro de 2011

Fernando Pessoa e alguns de seus Heterônimos

Ao contrário dos pseudônimos - vários nomes para uma mesma personalidade - os heterônimos constituem várias pessoas que habitam um único poeta. Cada um deles tem a sua própria biografia, sua temática poética singular e seu estilo específico. É como se eus fragmentados e múltiplos explodissem dentro do artista, gerando poesias totalmente diversas. O próprio Fernando Pessoa explicou os seus heterônimos:
Por qualquer motivo temperamental que me não proponho analisar, nem importa que analise, construí dentro de mim várias personagens distintas entre si e de mim, personagens essas a que atribuí poemas vários que não são como eu, nos meus sentimentos e idéias, os escreveria.
Assim têm estes poemas de Caeiro, os de Ricardo Reis e os de Álvaro de Campos que ser considerados. Não há que buscar em quaisquer deles idéias ou sentimentos meus, pois muitos deles exprimem idéias que não aceito, sentimentos que nunca tive. Há simplesmente que os ler como estão, que é aliás como se deve ler.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Teatro na escola


Peça: Dividindo Eu -
Síndrome da Alienação Parental - SAP

O teatro aborda sobre um tema muito importante e polêmico em nossa sociedade.Os problemas emocionais e algumas vezes até psíquicos que advem de conflitos familiares e, por fim uma separação, que principalmente afetam o desenvolvimento das crianças e adolescentes tem se tornado cada vez mais constantes.
Todos nós conhecemos alguma família cujo os pais estão separados, se essa nao for a nossa própria família. Independentemente dos motivos pelos quais levaram à essa decisão,os pais devem ter plena consciência de que os filhos fazem parte deste relacionamento, que tem sentimentos e pensamentos que podem concordar, entender ou não a situação.Por isso devem agir de maneira cautelosa para que essa criança ou jovem não se sinta forçada ou pressinada a escolher entre o pai ou mãe. Na verdade pai e mãe são um só, e mesmo morando em casas diferentes, precisam particpar da educação de seus filhos.Isso exige maturidade e amor a família !

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A Hora Íntima
Vinicius de Moraes

No último dia 09 de julho de 2000 completamos 20 anos sem a presença física do "Poetinha". E se assim digo é porque sua obra está cada vez mais viva entre nós. A ele o Releituras presta suas homenagens, lembrando um pedacinho da música com a qual foi saudado por Chico Buarque de Holanda e Toquinho: "A vida é pra valer, a vida é pra levar, Vinicius, velho, Saravá!".

Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
Para estar no caixão comigo?
Quem, em meio ao funeral
Dirá de mim: — Nunca fez mal...
Quem, bêbado, chorará em voz alta
De não me ter trazido nada?
Quem virá despetalar pétalas
No meu túmulo de poeta?
Quem jogará timidamente
Na terra um grão de semente?
Quem elevará o olhar covarde
Até a estrela da tarde?
Quem me dirá palavras mágicas
Capazes de empalidecer o mármore?
Quem, oculta em véus escuros
Se crucificará nos muros?
Quem, macerada de desgosto
Sorrirá: — Rei morto, rei posto...
Quantas, debruçadas sobre o báratro
Sentirão as dores do parto?
Qual a que, branca de receio
Tocará o botão do seio?
Quem, louca, se jogará de bruços
A soluçar tantos soluços
Que há de despertar receios?
Quantos, os maxilares contraídos
O sangue a pulsar nas cicatrizes
Dirão: — Foi um doido amigo...
Quem, criança, olhando a terra
Ao ver movimentar-se um verme
Observará um ar de critério?
Quem, em circunstância oficial
Há de propor meu pedestal?
Quais os que, vindos da montanha
Terão circunspecção tamanha
Que eu hei de rir branco de cal?
Qual a que, o rosto sulcado de vento
Lançara um punhado de sal
Na minha cova de cimento?
Quem cantará canções de amigo
No dia do meu funeral?
Qual a que não estará presente
Por motivo circunstancial?
Quem cravará no seio duro
Uma lâmina enferrujada?
Quem, em seu verbo inconsútil
Há de orar: — Deus o tenha em sua guarda.
Qual o amigo que a sós consigo
Pensará: — Não há de ser nada...
Quem será a estranha figura
A um tronco de árvore encostada
Com um olhar frio e um ar de dúvida?
Quem se abraçará comigo
Que terá de ser arrancada?
Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Rio, 1950

Texto extraído do livro "Vinicius de Moraes - Poesia Completa e Prosa", Editora Nova Aguilar - Rio, 1998, pág. 455.